Terceiro Capítulo:
Tipos e nomes que se enquadra todos os vinhos (uma viagem de cores, aromas e culturas)
O vinho é mais do que uma bebida: é uma presença silenciosa que atravessa séculos, acompanha o homem em suas conquistas e consolações, testemunha a sua criatividade e também as suas fraquezas. Desde o tempo dos romanos até hoje, ele foi companheiro inseparável do banquete e da solidão, da celebração e do recolhimento.
Beber vinho é participar de um rito antigo que nunca deixou de se reinventar.
Assim como a civilização, o vinho evoluiu. A cada época, surgiram novas exigências, novos métodos e novas formas de interpretar aquilo que nasce da vinha. O enquadramento ou classificação, que hoje parece tão rigorosa, é fruto dessa longa caminhada. O vinho pode ser compreendido de diferentes maneiras: pela sua cor, pela presença ou ausência de gás carbônico, pelo grau de doçura ou secura, pela técnica de produção, pela casta da uva ou pela região de origem. Cada critério abre uma janela para um mundo próprio.
As grandes famílias 
De modo geral, o vinho se divide em seis grandes famílias:
1ª pela cor, distinguem-se os Tintos, os Brancos e os Rosés.
2ª pelo gás carbônico, há os tranquilos, os frisantes e os espumantes.
3ª pelo açúcar, temos os Secos com até 4g/L de açúcar residual, os Meio-Secos com concentração entre 4g/L e 25 g/L de açúcar residual, e os Doces acima de 25 g/L de açúcar residual.
4ª pelo método de produção, desde os fermentados simples até os espumantes de método tradicional Champenoise (Champagne) ou Charmat (Prosecco) os Fortificados: que recebem adição de aguardente vínica, como Porto, Jerez, Madeira e Marsala. e os Licorosos / de sobremesa que podem ser fortificados, elaborados por colheita tardia, botrytis (podridão nobre) ou uso de uvas passificadas.
5ª pelas uvas ou castas, verdadeiros intérpretes da paisagem — Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Syrah, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, entre tantas outras.
6ª pelas regiões e denominações famosas, que se tornaram nomes de culto: Bordeaux e Borgonha, Champagne e Alsace, Rioja e Jerez, Douro e Chianti, Napa Valley, Mendoza, Barossa... entre tantas outras.
Mas esta divisão, embora útil, me parece fria demais. O vinho não é apenas técnica; é também expressão, sentimento, caráter. É por isso que prefiro olhá-lo de forma mais pessoal, em dezesseis tipos, que descrevem não apenas o líquido na taça, mas a experiência que ele oferece.
Os dezesseis tipos de vinho
Os Tintos
O tinto pode ser leve como uma conversa de verão, ou profundo como uma confissão noturna.
1º Leve, frutado e vivo: juventude em taça. Aromas de frutas frescas, taninos delicados e frescor vibrante. Feito para embutidos, patês e pratos leves. Melhor bebê-lo jovem e servi-lo entre 13 e 14 ºC.
2º Carnoso e frutado: de boca generosa, redondo, com nuances de especiarias. Combina com carnes assadas, caça leve e pratos ao molho. Revela-se melhor após alguns anos de garrafa, servi-lo entre 15 e 17 ºC.
3º Complexo, potente e generoso: volumoso, alcoólico, tânico. Um vinho de presença, que pede pratos robustos: carnes gordurosas, caça, foie gras, trufas. É vinho de espera e paciência, mínimo três anos de garrafa e servi-lo entre 15 e 17 ºC.
4º Complexo, tânico e elegante: denso e firme, com taninos que se domam ao longo do tempo. Profundo e persistente, ideal para pratos de sabor intenso. É vinho de espera e paciência, mínimo cincos anos de garrafa e servi-lo entre 16 e 18 ºC.
5º Complexo, elegante e raçudo: sedoso e persistente, com taninos finos e firmes. O Pinot Noir é sua melhor tradução, harmonizando-se com pratos lentos, carnes assadas e queijos macios. É vinho de espera e paciência, mínimo três anos de garrafa e servi-lo entre 16 e 17 ºC.
Os Brancos 
O branco é frescor e luz. É a brisa que sopra do mar, o perfume das flores, a clareza do dia.
6º Seco, leve e vivo: Fresco, de corpo leve, marcado pela acidez vibrante e aromas cítricos ou florais. Exemplo de Cepas: Sauvignon Blanc, Trebbiano, Verdicchio, Alvarinho. Harmoniza com saladas, peixes grelhados, frutos do mar crus (ostras) e queijos frescos. Melhor consumir jovem, servido entre 8 e 10 ºC.
7º Seco, frutado e macio: De corpo médio, macio no paladar, com aromas de frutas de caroço (pêssego, damasco) e notas discretas florais. Exemplo de Cepas: Chardonnay (sem madeira), Pinot Grigio, Viognier. Harmoniza com risotos leves, massas com molhos brancos, aves e queijos de massa mole. Ideal entre 9 e 11 ºC.
8º Seco, encorpado e elegante: Estruturado, muitas vezes fermentado ou amadurecido em barrica, apresentando notas amanteigadas, de baunilha ou tostado. Exemplo de Cepas: Chardonnay, Semillon. Harmoniza com pratos de maior intensidade, como lagosta, bacalhau ao forno, aves nobres e queijos curados. Servir entre 11 e 13 ºC.
9º Seco e aromático: Intenso no nariz, perfumado com notas florais e especiarias, por vezes com leve toque adocicado. Exemplo de Cepas: Riesling, Gewürztraminer, Moscato, Torrontés. Harmoniza com cozinha asiática, pratos levemente picantes, saladas exóticas e queijos azuis. Ideal entre 8 e 10 ºC.
10º Meio-seco, aveludado e licoroso: Com maior concentração de açúcar residual, textura macia e aveludada. Exemplos: colheita tardia, botrytizados (Sauternes, Tokaji). Harmoniza com foie gras, queijos azuis, sobremesas frutadas. Servir fresco, entre 7 e 9 ºC.
Os Rosés
O rosé é o meio-termo encantador: tem a leveza do branco e o caráter do tinto.
11º Leve, vivo e frutado: Refrescante, alegre, ideal para dias de sol, de acidez equilibrada, aromas de frutas vermelhas frescas. Exemplo de Cepas: Grenache, Cinsault, Tempranillo. Harmoniza com saladas, frutos do mar, grelhados leves e queijos frescos. Ideal jovem, servido entre 8 e 10 ºC.
12º Generoso e encorpado: Mais estruturado, com maior intensidade aromática e textura de boca. Exemplo de Cepas: Syrah, Mourvèdre, Cabernet Sauvignon. Perfeito para pratos mediterrâneos, peixes gordurosos, carnes brancas e queijos curados. Servir entre 10 e 12 ºC.
Os Espumantes
O espumante é a festa em estado líquido.
13º Espumante: bolhas finas que dançam na taça, frescor que desperta, alegria que contagia. Seja Champagne, Prosecco ou Cava, é sempre o vinho do brinde, o símbolo da celebração. Aromas delicados de frutas e flores, boca fresca, viva e leve graça a suas bolhas, mais o menos persistente. Perfeito para pratos de frutos do mar, inclusive caviar, peixe grelhado, defumado ou servido com creme leve, terrina de peixe, queijos de pasta mole, sobremesas de frutas, merengue, cremes. Consumir ele enquanto jovem e servi-lo entre 08 e 10 ºC.
Os Vinhos Fortificados
Os fortificados são vinhos com destino de eternidade: fortes, complexos, feitos para atravessar o tempo.
14º Vinho Fortificado seco a meio-seco: Vinho ao qual é adicionado aguardente vínica durante a fermentação, aumentando o teor alcoólico e preservando parte do açúcar natural (ou deixando-o totalmente seco). São potentes, complexos e longevos. Exemplos: Jerez (Fino, Amontillado, Oloroso), Madeira seco. Harmoniza com: tapas, frutos secos, queijos curados, presunto ibérico, pratos com cogumelos e carnes intensas. Serviço: entre 12 e 14 ºC.
15º Vinho Fortificado doce: Estruturados, ricos e intensamente aromáticos, com notas de frutas passas, mel, especiarias e frutos secos. Exemplos: Porto (Ruby, Tawny, LBV, Vintage), Madeira doce, Marsala. Harmoniza com: sobremesas à base de chocolate, tortas de frutas secas, queijos azuis e até charutos (em alguns estilos). Serviço: entre 14 e 16 ºC.
Os Vinhos Licorosos
Os licorosos são néctares de sol concentrado, feitos de uvas maduras, quase passas, que entregam ao vinho a doçura densa do tempo.
16º Vinho Licoroso aromático e doce: Elaborados a partir de uvas muito maduras, secas ao sol ou parcialmente passificadas, com elevado teor de açúcar residual e textura untuosa. São intensos, de aromas concentrados de frutas secas, mel, caramelo e especiarias. Exemplos: Moscatel de Setúbal, Málaga, Vin Santo, Commandaria. Harmoniza com: sobremesas à base de frutas secas, tortas caramelizadas, doces conventuais e queijos azuis. Serviço: fresco, entre 8 e 10 ºC.
Concluindo na minha humilde opinião, mais do que técnica de enquadramento, o vinho é encontro.
Cada garrafa é testemunho de sua terra, de quem o produziu e do tempo que pacientemente o transformou.
Beber vinho é partilhar história e cultura; é abrir-se para a sensibilidade dos sentidos e para a memória dos afetos.
O vinho, afinal, é o fio invisível que une o campo à mesa, a tradição à modernidade, o indivíduo à comunidade.
É um diálogo permanente entre natureza e homem, passado e presente.
Enfim, brindar com um vinho é brindar à vida em sua plenitude e reconhecer, em cada gole, a grandeza de algo simples que se tornou eterno.
Niterói 16 setembro 2025.
Gianni Volpato.